16 de julho de 2009

Poesia de quinta


Trecho de A decapitação dos chefes

Ítalo Cavino, em Um general na biblioteca

O caminho é longo. A hora da revolução ainda não soou. Os dirigentes do movimento continuam a se submeter ao bisturi. Quando chegarão ao poder? Por mais tarde que seja, serão os primeiros chefes que não frustararão as esperanças depositadas neles. Já os vemos desfilarem pelas ruas embandeiradas no dia da posse: avançando com a perna de pau quem ainda tiver uma perna inteira; ou empurrando a carriola com um braço quem ainda tiver um braço para empurrá-la, os rostos encobertos por máscaras de plumas para esconder as escarificações mais repugnantes, alguns arvorando seu próprio escalpo como uma relíquia. Nesse momento ficará claro que só naquele mínimo de carne que lhes resta poderá encarnar-se o poder, se ainda for preciso existir um poder.

Dedicado àqueles que ainda acreditam.

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