24 de dezembro de 2009

Poesia de quinta

Trecho de Morte e vida Severina, João Cabral de Melo Neto

Minha pobreza tal é
Que não trago presente grande:
Trago para a mãe caranguejos
Pescados por esses mangues;
Mamando leite de lama
Conservará nosso sangue.

Minha pobreza tal é
Que coisa não posso ofertar:
Somente o leite que tenho
Para meu filho amamentar;
Aqui são todos irmãos,
De leite, de lama, de ar.

Minha pobreza tal é
Que não tenho presente melhor:
Trago papel de jornal
Para lhe servir de cobertor;
Cobrindo-se assim de letras
Vai um dia ser doutor.


We wish you a merry christmas!

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