17 de dezembro de 2009

Poesia de quinta

Trecho de Gomorra, Roberto Saviano

O porto fica afastado da cidade. Um apêndice que nunca degenerou em perinotite, sempre conservado no abdômen da costa. Há partes desérticas enclausuradas entre a água e a terra, mas que parecem não pertencer nem ao mar nem à terra. Um anfíbio de terra, uma metamorfose marinha. Adubo e lixo, anos de resíduos levados à margem pelas marés, criaram uma nova formação. Os navios descarregam suas latrinas, limpam os porões, deixando cair uma espuma amarelada na água. As lanchas e os iates expectoram e limpam seus motores, jogando tudo na lixeira marinha. E tudo se acumula na costa, primeiro como massa mole e depois crosta dura. O sol acende a miragem de mostrar um mar feito de água. Na realidade, a superfície do golfo assemelha-se ao brilho dos sacos plásticos de lixo. Aqueles pretos. E, mais que de água, o mar do golfo parece uma enorme latrina de percolação.

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