25 de fevereiro de 2010

Poesia de quinta

Trecho de “Os verões da grande leitoa branca”, Jamil Snege

“Minha sogra é uma dessas mulheres que saltam sobre a menopausa e continuam a menstruar aos 50. Odeio minha sogra. Odeio o médico de bosta que criou esse prodígio de ovulação perpétua, abelha-rainha loira e coxuda. Todos nós – genros, filhas, filho, marido e netos – gravitamos em torno desse ovário infatigável, palreante, onipresente. Ela faz as tortas, o pudim de avelãs, o salpicão de frango, os sucos de graviola, o mingau das crianças, a caipirinha do aperitivo. Está sempre a balançar os seios, chupitando molhos, cruzando as pernas, chuchando os dedos, empinando a bunda, mamujando a calda dos pudins. (...)

Sempre anuncia quando vai fazer xixi, tomar uma ducha porque está toda suada, por um vestidinho mais leve que a vontade mesmo era ficar nua com esse calorão danado. E dá-lhe perna, e dá-lhe coxa, e dá-lhe farta fricção de peitos, e dá-lhe esfregação de bunda quando, toda afogueada, traz à mesa o enorme pernil de porco que acaba de tirar do forno. Odeio minha sogra. Odeio o cheiro de seu sabonete, da colônia que ela borrifa no profundo rego de seus seios.”

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