6 de maio de 2010

Poesia de quinta, em homenagem

Mães judias, Luis Fernando Veríssimo

Diz que quatro mães judias se encontram no céu. Como não podia deixar de ser, a conversa toda é sobre os filhos.
- Não posso me queixar – diz a primeira. – Meu filho, até hoje, só me deu felicidade. Um santo. E na Terra, por causa dele, todo mundo só fala em caridade, em virtude, em bons sentimentos.
- Seu filho é...? – pergunta a segunda.
- Jesus Cristo! – diz a primeira. E, inclinando-se para a frente, em tom confidencial e com um gesto que indica tudo em volta: - O dono disto aqui.
- Não é o pai dele?
- Bem... É da família.
- Agora, alegria, alegria, alegria, quem me dá é meu filho – diz a segunda mãe – Ach, como eu me orgulho dele. Na Terra, por sua causa, todo mundo só fala em justiça, em mudanças sociais, em solidariedade humana.
- Como é o nome dele?
- Karl. Karl Marx.
- Mmmm – fazem as outras, apertando a boca.
- O Shnuga... – suspira a mãe de Marx, lembrando o seu apelido de bebê.
- E o meu filho? – diz a terceira. – Um professor. Este sim é para uma mãe se orgulhar. Inteligeeeeeente! Um crânio. Na Terra, por causa dele, todo mundo só fala do Universo, na relatividade, nos buracos negros...
- Quem é ele?
- O Beto.
- Beto?
- Einstein.
- Ah.
Falta falar a quarta mãe e as outras três se viram para ela.
- Eu nem quero falar porque vocês vão ficar com inveja de mim – diz ela.
- Fala.
- Que filho!
- Quem é?
- Um doutor.
- O que foi que ele fez?
- Por causa dele, na Terra, todo mundo só fala na mãe.
E a mãe de Freud fica sorrindo, deixando-se admirar pelas outras três. Filho era aquele!

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