1 de julho de 2010

Poesia de quinta

Hoje é dia do nosso aniversário! Luana só caminha faz um ano e para comemorar, a última poesia de quinta. Sim, agora a poesia vai aparecer quando quiser e não mais só às quintas. Deixamos aqui nosso presente, que não tem só humor, tem sentimento desse poeta que foi chamado de bicha, de pária, de drogado, e deixou para o mundo suas belas palavras.

Para ler, ouvindo:


Uivo para Carl Solomon, Allen Ginsberg
Eu vi os expoentes de minha geração destruídos pela loucura,
morrendo de fome, histéricos, nus,
arrastando-se pelas ruas do bairro negro de madrugada em busca
de uma dose violenta de qualquer coisa,
"hipsters" com cabeça de anjo ansiando pelo antigo contato
celestial com o dínamo estrelado da maquinaria da noite,
que pobres, esfarrapados e olheiras fundas, viajaram fumando
sentados na sobrenatural escuridão dos miseráveis apartamentos sem água quente,
flutuando sobre os tetos das cidades contemplando jazz,
que desnudaram seus cérebros ao céu sob o Elevado e viram
anjos maometanos cambaleando iluminados nos telhados
das casas de cômodos,
que passaram por universidades com os olhos frios e radiantes
alucinando Arkansas e tragédias à luz de William Blake
entre os estudiosos da guerra,
que foram expulsos das universidades por serem loucos
e publicarem odes obscenas nas janelas do crânio,
que se refugiaram em quartos de paredes de pintura descascada
em roupa de baixo queimando seu dinheiro em cestas
de papel, escutando o Terror através da parede,
que foram detidos em suas barbas públicas voltando por Laredo
com um cinturão de marijuana para Nova York,
que comeram fogo em hotéis mal-pintados
ou beberam terebentina em Paradise Alley, morreram ou flagelaram
seus torsos noite após noite
com sonhos, com drogas, com pesadelos na vigília, álcool
e caralhos e intermináveis orgias,
incomparáveis ruas cegas sem saída de nuvem trêmula e clarão.

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